A percepção de que a ação ostensiva no combate à criminalidade é insuficiente para resolver o problema é cada vez mais aceita entre as autoridades ligadas à segurança pública e a população em geral. Dessa forma, é cada vez mais vista como uma necessidade a inserção da polícia nas comunidades em que atuam, reforçando os valores da cidadania, orientando a população na resolução de problemas e promovendo a integração social. São esses os pilares básicos daquilo que é conhecido como policiamento comunitário.
A definição desse conceito pode ser resumido em oito itens:
- Filosofia (a crença na necessidade não só da repressão, mas também na prevenção);
- Personalização (a atribuição de estratégias próprias para cada comunidade de acordo com sua cultura e necessidades);
- Policiamento (o patrulhamento nas comunidades);
- Permanência (o alocamento em certos setores de forma que sejam firmadas parcerias com a população local);
- Posto (subdivisão em bairros e descentralização do policiamento);
- Prevenção (a efetivação de ações e o cuidado para evitar que o crime aconteça);
- Parceria Pró-ativa (o respeito mútuo entre polícia e população) e
- Resolução de Problemas (o resultado do trabalho passa a ser mensurado de forma qualitativa, e não quantitativa).
Esses quesitos são conhecidos como os 9 Ps, em referência à letra inicial de cada um deles na língua inglesa (Philosophy, Personalization, Patrol, Permanence, Place, Prevention, Proactive Partnership e Problems Solving).
O conceito de policiamento comunitário tem raízes na antiguidade na China e no Japão, mas passou a se desenvolver, de fato, no início na década de 70 em cidades do interior dos Estados Unidos. Com uma organização social completamente diferente daquela a que estamos acostumados no Brasil, a ideia colocada em prática era designar oficiais para cuidar de setores específicos de uma determinada comunidade. Com a proximidade e intimidade gerada entre o policial e os habitantes do local onde está inserido, ele poderia orientar a população, conhecer as dificuldades que enfrentam e prevenir crimes.
No Brasil, o conceito chegou na década de 80, após anos de desconfiança quanto ao modelo. Acreditava-se que o contato do policial com a população tenderia a facilitar a corrupção, e, portanto, a proximidade entre as partes era vista com maus olhos pelas autoridades. Um dos primeiros grandes esforços conhecidos para promover a filosofia, no entanto, veio apenas em 1994, quando o então tenente Julio Cesar Costa, sob supervisão do coronel Cerqueira, desenvolveu no Espírito Santo um projeto de preservação da ordem pública que ficou conhecido como “polícia interativa”.
Já em Goiás, conforme o documento “Conjuntura Econômica Goiana – Dezembro 2013”, elaborado pela Secretaria de Planejamento (Seplan), esse tipo de policiamento se desenvolveu apenas no início do século XXI, quando já existiam profissionais com formação específica para atuar no policiamento comunitário. Antes disso, policiais do estado foram enviados para São Paulo e Espírito Santo, na década de 90, para absorverem conceitos que poderiam ser aplicados à realidade goiana.
Foi apenas nos início dos anos 2000, porém, que começaram as capacitações específicas por aqui. No entanto, houve forte resistência dentro da própria corporação, já que o “novo” conceito era inteiramente contrário àquele vigente, que tinha como foco a ação ostensiva. O enfrentamento de ideias começou a gerar distorções sobre o significado e as intenções do policiamento comunitário, o que tornou ainda mais difícil sua aplicação e multiplicação em solo goiano.
Em 2004 é criada a Gerência Executiva dos Centros Integrados de Operações de Segurança (Ciops), que, sob o comando do então tenente-coronel Silvio Benedito, atual comandante-geral da Polícia Militar, tinha como objetivo responder pelas políticas de integração entre as instituições policiais e a comunidade. Neste período já existia a Gerência dos Conselhos Comunitários de Segurança, que visava a instituição e o acompanhamento dos conselhos comunitários de segurança. Os anos seguintes continuaram sendo difíceis para quem tentava difundir a filosofia no estado, até que a situação começou a mudar aos poucos por volta de 2006 com o investimento maciço em divulgação, o que incluía a distribuição de cartilhas e folders.
A partir daí, diversos projetos foram colocados em execução. Entre os mais recentes estão o Policiamento por Quadrantes, implantado em setembro do ano passado, quando 1,1 mil novos policiais foram formados e passaram a atuar em pequenos quadrantes dos bairros goianos, e o “Venha Correr com a Polícia Militar”, que objetiva a aproximação da corporação com a população ao mesmo tempo em que propicia melhor qualidade de vida a todos os envolvidos.
Tais ações têm sido vistas cada vez mais com bons olhos pelas autoridades competentes, que relatam melhoras sensíveis nos índices de criminalidade e na sensação de segurança da população.
“É preciso que se compreenda que a polícia sozinha (sem parceria) não consegue sanar as causas da criminalidade e já está mais que comprovado que quando a qualidade geral de vida na área aumenta, aumentam também a segurança real e a sensação de segurança por parte da comunidade”, relata o capitão da PM e gerente de Integração Polícia-Comunidade na Secretaria da Segurança Pública, Cláudio da Costa Leão, em artigo publicado no site da Secretaria de Segurança Pública. “Precisamos conscientizar as pessoas para que não sejam vítimas fáceis e trabalharmos juntos para evitar que o agressor da sociedade (criminoso) não tenha a oportunidade de cometer o crime."